Quando a gente fala em transição energética no Brasil, quase sempre se pensa em boas notícias: mais solar, mais eólica, matriz mais limpa e competitiva.
Só que essa história tem um “porém” técnico importante que começa a bater na porta de quem atua no Mercado Livre de Energia: o curtailment energético.
Com o avanço acelerado da geração renovável, em especial solar e eólica, o sistema elétrico passou a conviver com momentos de excesso de oferta em certos horários e falta em outros.
Em alguns dias, há tanta energia solar produzida durante o dia que o Operador Nacional do Sistema (ONS) precisa mandar desligar parte das usinas; à noite, quando o sol desaparece e a demanda sobe, o sistema volta a operar sob pressão.
Esse descompasso é um problema técnico, mas vira rapidamente um tema econômico: afeta geradores, mexe com a liquidação na CCEE, influencia o PLD e aumenta a volatilidade de preços para quem está no Mercado Livre de Energia. Estudo citado pela Coprel mostra que, até 2029, o curtailment pode passar de 10% na eólica e ultrapassar 20% na solar, mesmo com reforços na transmissão.
Ou seja: curtailment é um risco real de receita, custo e planejamento que precisa entrar no radar de qualquer empresa que compra ou vende energia no ACL.
“Curtailment” vem do inglês e pode ser traduzido como corte ou limitação da geração. No contexto elétrico, significa obrigar uma usina a reduzir ou interromper a produção de energia mesmo quando:
O curtailment ocorre tipicamente quando há excesso de geração em relação à demanda, algo cada vez mais frequente nos horários de pico da produção solar. Nesses momentos, o ONS solicita o corte para manter a estabilidade da rede.
Na prática, o curtailment é uma ferramenta de balanço entre oferta, demanda e segurança operacional. Alguns gatilhos típicos:
Dá para pensar em dois tipos de curtailment:
Nos dois casos, o efeito para quem gera é o mesmo: energia que poderia ser vendida deixa de ser produzida, e o impacto econômico aparece na sequência.
O Brasil apostou forte em renováveis, e com razão. Mas a velocidade de crescimento da solar e da eólica (especialmente na GD e em alguns polos regionais) passou à frente da capacidade do sistema de escoar essa energia de forma suave.
A capacidade instalada de fontes intermitentes cresce em ritmo muito superior ao da demanda no mesmo horário, criando um desalinhamento estrutural entre curva de carga e curva de geração.
Esse descompasso aparece principalmente em dois pontos:
Quando há excesso de oferta em relação à demanda, o sistema precisa desligar fontes. Em alguns casos, hidrelétricas firmes são reduzidas para “abrir espaço” para a solar; em outros, a própria geração renovável centralizada é cortada.
A reportagem do Extra Classe lembra que, em cenários extremos, esse desequilíbrio pode levar ao que alguns especialistas chamam de “apagão reverso”: risco não por falta, mas por excesso de energia em determinados horários, seguido de dificuldade para atender a demanda quando a solar cai.
Leia também: “Regulamentações no Mercado Livre de Energia: previsões para 2027”
Sem armazenamento em grande escala (baterias, reservatórios com flexibilidade, outras soluções), o sistema precisa recorrer a cortes durante o dia e acionamento de termelétricas ou outras fontes nos horários de pico noturno.
Essa falta de flexibilidade contribui para:
Segundo estimativas apresentadas por entidades do setor, como ABSOLAR e ABEEólica, as perdas acumuladas com cortes de geração eólica e solar já somam cerca de R$4,8 bilhões.
Esse passivo compromete a saúde financeira de muitos empreendimentos, reduz o retorno esperado pelos investidores e aumenta a percepção de risco regulatório, o que tende a encarecer novos projetos e, no limite, pressionar o custo da energia para consumidores do Mercado Livre de Energia.
Quando uma usina é cortada, a energia que seria entregue:
Na prática, curtailment muda o balanço de energia do sistema e pode provocar episódios de PLD mais volátil, justamente porque parte da geração barata (renovável) fica temporariamente fora do jogo.
O consumidor do Mercado Livre de Energia não vê o curtailment diretamente na fatura, mas sente o efeito em três frentes:
No Mercado Livre de Energia, todo mundo trabalha em cima de uma premissa central: entregar o que foi contratado. O curtailment coloca ruído nessa premissa, sobretudo para geradores renováveis em regiões mais críticas.
Geradores precisam incorporar esse risco nos modelos de negócio e, quando necessário, considerar o curtailment na formação de preço de contratos bilaterais.
Comercializadoras, por sua vez, precisam avaliar:
Para consumidores livres, o tema entra direto no playbook de planejamento energético:
Em mercados mais maduros, curtailment é tratado como risco operacional e financeiro, não como surpresa eventual. O Brasil caminha para essa mesma lógica.
Do lado das empresas, a primeira frente é desenhar uma estratégia de contratação que combine fontes e modulações diferentes, por exemplo:
O objetivo é equilibrar economia, sustentabilidade e gestão de risco diante de um cenário em que curtailment tende a seguir na agenda.
Outra alavanca importante é a gestão do consumo:
Empresas que conseguem adaptar parte da operação à lógica de preço horário ganham margem para “jogar a favor” do sistema em vez de remar contra.
À medida que o ambiente regulatório avance em direção a um marco para armazenamento de energia, baterias e outras soluções de flexibilidade tendem a entrar no radar de grandes consumidores, geradores e comercializadoras.
Somado a isso, tecnologias de automação, medição avançada e analytics ajudam a:
Para quem está ou pretende ir para o Mercado Livre de Energia, o recado é direto: ignorar o tema não é opção. Curtailment precisa entrar na mesa junto com preço, prazo, fonte e indexador, como parte da estratégia de risco, não como uma variável aleatória que “aconteceu”.
A boa notícia é que o setor já discute saídas: reforço de transmissão, revisão de incentivos, marco de armazenamento, ajustes na operação e melhor integração entre geração centralizada e distribuída. Nesse cenário, ter um parceiro que entende tanto a agenda regulatória quanto o desenho de contratos faz diferença.
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